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Invisibilidade Lésbica – Repost Heidi Nummi
14-10-2019

 

A aluna Heidi Nummi fez seu programa de estágio em Comunicação no Grupo Dignidade, cuja principal atuação é na defesa e promoção da livre orientação sexual. Durante o programa, ela teve como tarefas realizar investigações e escrever artigos para o site da instituição. O texto abaixo é um repost do original postado nesse link. Confira aqui:

 

 

Invisibilidade Lésbica – tanto no movimento LGBTI+ quanto na sociedade em geral

 

 

Ananda Puchta é advogada no Grupo Dignidade e uma das fundadoras de um coletivo lésbico, o Coletivo Cássia, fundado em novembro de 2017. Também é ativista de direitos humanos, advogada e presidente da Comissão de Diversidade da Ordem dos Advogados do Brasil do Paraná (OAB-PR).

 

Em 13 de fevereiro de 2018, Ananda representou o Grupo Dignidade na sustentação oral como amicus curiae, na tribuna do Supremo Tribunal Federal (STF), nas duas ações que tramitavam na corte pela criminalização da LGBTIfobia, as ações ADO 26 e MI 4733.

 

 

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Créditos: Heidi Nummi

 

“Lésbicas geralmente não se sentem bem-vindas na comunidade LGBTI+ dominada por homens. Temos uma cultura e um modo de vida que difere das comunidades gay e trans”, diz Ananda. “Existe uma necessidade urgente de trazer um maior senso de comunidade lésbica para Curitiba”, complementa. A diferença de cultura também pode ser vista nas estruturas organizacionais: os movimentos lésbicos muitas vezes não são hierárquicos em sua natureza.

 

O nome do coletivo vem da cantora brasileira Cássia Eller , famosa na década de 1990. Ela era uma mulher forte e inspiradora – e lésbica. Por isso mesmo o Coletivo Cássia realizou um evento chamado Ideais e Ideais de Mulheres Transformadoras e trouxe mulheres lésbicas de sucesso para falarem de suas jornadas pessoais e profissionais. Pois existem muitas delas. Mas por que elas não são reconhecidas?

 

Acima de tudo, as lésbicas não têm visibilidade. A comunidade LGBTI+ não está livre de tendências patriarcais proeminentes em toda a sociedade. Segundo Ananda, as lésbicas não têm poder na comunidade. “Eu sou sempre a única mulher sentada nessas mesas”, diz Ananda. Muito raramente existem mulheres líderes em movimentos sociais.

 

A mesma falta de visibilidade pode ser vista na história do movimento LGBTI+. Todos os atores proeminentes desta comunidade de que nos lembramos hoje em dia são homens. Mesmo que tenha existido algumas grandes ativistas lésbicas, elas não são lembradas ou discutidas.

 

Ananda menciona Heliana Hemetério como exemplo de mulher lésbica notável. Ativista social desde 1986, Heméterio foi presidente do Grupo Dignidade e é especialista em gênero e em raça e é vice-presidente da ABGLT. Ela poderia muito bem ser vista como um símbolo de luta contra a violência, o racismo e a LGBTIfobia.

 

A falta de visibilidade que as lésbicas sofrem tem muitas formas. Se tomarmos o campo da saúde por exemplo, doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV, são mais propensas a se espalhar entre os homens. Mas isso não quer dizer que as mulheres lésbicas não tenham seus problemas. As mulheres não têm contracepção adequada como não há áreas especializadas em sexo lésbico.

 

Ananda vê que o problema da visibilidade tem muito a ver com uma construção cultural. As mulheres não são criadas para lutarem e se fortalecerem juntas. Pelo contrário, elas rivalizam entre si. Para superar essa tendência é urgentemente necessário criar um senso de comunidade entre as mulheres.

 

É por isso que o Coletivo Cássia se concentra principalmente na construção de comunidades. O que começou como uma reunião mensal de cerca de 20 participantes, agora se transformou em uma reunião de pelo menos 60 pessoas por mês. Há um novo tópico todo mês que é discutido em um ambiente íntimo e seguro. Para citar apenas um exemplo: o Coletivo Cássia já falou da bissexualidade como uma orientação sexual estigmatizada, na qual as mulheres bissexuais são estigmatizadas tanto por pessoas homossexuais quanto heterossexuais. Outro tópico foi a maternidade, que focou nos casais de lésbicas com filhos.

 

Eu visitei o escritório da Puta Peita com a Ananda, que trabalha como advogada da empresa. A Peita é uma marca feminista, famosa por seus slogans e camisetas. A marca foi fundada por Karina Gallon, e ficou conhecida em todo o Brasil quando Manuela d’Ávila usou suas camisas durante uma campanha como candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) para a vice-presidência do Brasil em 2018. Em colaboração com o Coletivo Cássia, a Peita criou a “Eu estou com ela”. A camisa é um manifesto sobre as mulheres se unindo e formando uma aliança. É também uma afirmação sobre o papel das lésbicas e das mulheres bissexuais no movimento LGBTI+, em que as mulheres muitas vezes são deixadas de lado. O slogan tem um toque de poder: as mulheres podem e devem ficar juntas contra a discriminação que enfrentam.

 

Foto das membras do Coletivo Cássia e da Puta Peita. Créditos: Site Puta Peita

Foto das membras do Coletivo Cássia e da Puta Peita. Créditos: Site Puta Peita

 

Qual é a relação entre o movimento feminista e o movimento lésbico?

“No que diz respeito à questões interseccionais, a comunidade LGBTI+ pode ser muito exclusiva”, Ananda me diz. As lésbicas estão em muitos aspectos junto com a agenda feminista, mas sua relação também tem aspectos controversos. Por exemplo, algumas feministas extremas não estão muito abertas à ideia de mulheres transgêneras fazerem parte do movimento feminista. Ananda vê a comunidade lésbica em algum lugar no meio: não faz parte do movimento feminista, mas também não faz parte da comunidade LGBTI+ dominada por homens. Isso pode ser problemático às vezes e exige muito diálogo.

 

“O que eu sei é que precisamos ser mais visíveis e nos mostrar mais”, diz Ananda. É preciso superar o problema da falta significativa de visibilidade e representatividade.

 

Espero que este artigo seja uma maneira de destacar essas mulheres notáveis e o trabalho que elas fazem.

 



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