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Jantar sem fronteiras
18-12-2019
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Myria e sua família abriram as portas de sua casa e nos convidaram para um jantar com muita troca cultural. Eles são refugiados Sírios e nos presenteiam com aspectos de sua cultura e história: um jantar típico delicioso, música tradicional ao vivo e histórias de apertar o coração. Eles são, acima de tudo, sobreviventes.

 
 
Assim como nós da Be, eles visam viver as diferenças e acreditam que isso pode promover um mundo melhor. Hoje, eles são luz. São um exemplo de resiliência e força e inspiram a todos que encontram com essa família.

 

Os 16 membros da família vieram ao Brasil a partir de 2013, dois anos após o início da guerra, dois anos sem água, sem luz e em situação de escassez de alimentos. Deixaram tudo o que tinham e enfrentaram muitos obstáculos para fugir do país. Conseguiram o visto brasileiro de turismo, mas como eles mesmo disseram “A embaixada sabia que sírios naquela época não eram turistas”.
 
Cada familiar teve de vir sozinho. Cada um tem a sua história. Seu dinheiro não valia nada. Seus olhos se enchem de lágrimas quando revivem as memórias.
 
Ao chegarem em Curitiba, mais obstáculos. Primeiro, o frio. Myria conta que disseram a eles que Curitiba era uma cidade quente e, por isso, deixaram as roupas mais pesadas para trás. Depois, o idioma. Sem saber uma única palavra de Português, conseguiam se comunicar apenas com o Google Tradutor. “Imaginem-se no oposto da situação: você é um recém chegado na Síria e quer contratar um plano de telefone mas o atendente fala só árabe. Você não consegue.” Para ir a qualquer lugar, dependiam de um mapa.

 

“Foi como se eu fosse uma criança perdida, não entendia nada, não conseguia falar, não sabia onde estava nem para onde ia.”

 
A burocracia brasileira para imigrantes também não foi fácil. Todos os estrangeiros que residem no Brasil têm que se apresentar na Polícia Federal e solicitar o CRNM (Carteira de Registro Nacional Migratório). O da Myria, por exemplo, demorou mais de um ano para chegar. Durante esse tempo, ela ficou com o protocolo do pedido. Por desconhecimento da população brasileira, esse protocolo era negado como documento. As pessoas responsáveis pela contratação tinham medo que não fosse reconhecido como documento oficial e preferiam “Ter menos dor de cabeça e não nos contratar”.

Myria e Qanun (instrumento)

Myria e Qanun (instrumento)


 

Aos poucos, a família foi aprendendo aspectos culturais e burocráticos do país. Lucia continuou os seus estudos na UFPR através de uma cota para refugiados e foi a primeira refugiada a se formar em uma Universidade Federal no Paraná e a segunda no Brasil. Seu projeto de TCC foi o projeto de um Centro de Acolhimento para Refugiados, coisa que não encontraram quando chegaram e ainda não existe.
 
Em Curitiba, as poucas ONGs que auxiliavam no processo encontraram dificuldades para se manter e tiveram de ser fechadas. Apenas uma permanece aberta (a Cáritas), mas a luta é diária para isso. As Igrejas têm tido um papel fundamental nesse processo, mas ainda é pouco pela quantidade de refugiados que o país recebe.
 
De acordo com eles, há muitas feiras e eventos de refugiados na cidade. Foi em um desses que Myria conheceu seu marido, um refugiado venezuelano.
 
Ele conta de uma conversa muito interessante que teve com seu pai logo que a Guerra na Síria começou. Eles se perguntavam como era a vida das pessoas no país quando estava em guerra, se as crianças iam para aula, se iam trabalhar… Mal eles sabiam que, em não muito tempo, estariam enfrentando uma situação similar. “Tudo começou aos poucos. Às vezes a gente saia e encontrava uma manifestação, às vezes demorava muito mais para voltar para casa. A luz caia, ficávamos sem internet. Mas fomos levando a vida. Tudo parecia ‘normal’, mas não era. Você saia de casa para sua rotina, mas não sabia o que ia acontecer depois”.
 
Foi esse sentimento que uniu o casal. De saber o que era ficar sem água e sem luz por dois anos. De nunca ter certeza sobre o futuro. De só querer a paz.
 

“Eles se perguntavam como era a vida das pessoas no país quando estava em guerra, se as crianças iam para aula, se iam trabalhar… Mal eles sabiam que, em não muito tempo, estariam enfrentando uma situação similar.”

 
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Cruz Vermelha tratava dos feridos, sem se importarem com a nacionalidade, religião, cor de pele ou posicionamento político. Todos eram humanos para eles. Todos queriam o fim da guerra e a paz para poderem voltar para suas famílias e suas vidas.
 
Com o fim da Guerra, a Cruz Vermelha começou a promover programas em que as famílias enviassem seus filhos para outros países no intuito de conhecerem e vivenciarem outras culturas. Dessa forma, entenderiam que apesar de nossas diferenças, todos temos os mesmos objetivos: viver em paz. Isso só poderia ser alcançado através do respeito mútuo, do entendimento que não existe certo ou errado, apenas o diferente.
 
Também há uma história, não se tem comprovação, de que no comitê que selecionou as cidades a serem bombardeadas no Japão havia um homem que retirou uma das cidades da lista e colocou Hiroshima em seu lugar. Mas por quê? De acordo com essa história, ele tinha carinho por uma família que morava naquela cidade. Essa versão afirma que o intercâmbio cultural tem como aspecto chave a estadia em casas de família por isso, para criar laços e empatia.
 
Conhecer e respeitar a cultura do outro é fundamental para um mundo melhor. Entender que todos temos os mesmo objetivos. Mas para isso é preciso ter o interesse em. Interesse em saber sobre o outro, saber sobre histórias e assuntos que nem sempre tem a ver com os nossos, afinal é mais fácil se interessar apenas por nós mesmos. A guerra da Síria teve início em 2011 e estamos em 2019 porém ela ainda perdura.
 

“Interesse em saber sobre o outro, saber sobre histórias e assuntos que nem sempre tem a ver com os nossos, afinal é mais fácil se interessar apenas por nós mesmos.”

 
Quando a guerra do outro se torna nossa? Apenas quando as vítimas dessa violência pedem acolhimento em nosso país? Quando literalmente se aproxima de nós? Ou saber que existem milhares de mortos, feridos e imigrantes não é impactante o suficiente para interferir nossas rotinas e questionamentos? E se fosse você? Seus pais, seus amigos, seus amores?
 

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Esse jantar de final de ano de 2019 foi um meio que a equipe BE encontrou de conhecer mais sobre vidas e culturas de outro continente, sem precisar sair da cidade. Conhecemos além dos números, conhecemos as pessoas, suas histórias, relatos e testemunhos. Trouxemos para a nossa realidade e criamos empatia.

 
O jantar, um ato tão pequeno que poderia passar como algo rotineiro, nos relembrou que nós também podemos ajudar. Ao reconhecer essa questão, não apenas da Síria, mas de outros 14 conflitos mundiais que estão ocorrendo neste momento, reconhecer que apesar do Brasil não ter uma boa infraestrutura para o suporte e acolhimento desses 774,2 mil imigrantes (de acordo com o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, entre 2010 e 2018 esse foi o número registrado de amparos legais) podemos nos conscientizar um a um.
 
Podemos divulgar para mais pessoas irem escutá-los e compreendê-los (através desse jantar), além de tirarem suas dúvidas “ao vivo”, podemos conversar com nossos conhecidos que são recrutadores ou trabalham no RH de empresas sobre o fato do protocolo do CRNM mencionado anteriormente pode ser aceito sim, podemos avisar que caso você queira aprender ou praticar um idioma é possível fazê-lo com um nativo da língua, em troca do ensino de português.
 

“O jantar, um ato tão pequeno que poderia passar como algo rotineiro, nos relembrou que nós também podemos ajudar.”

 
Podemos contribuir para uma ONG, ou até mesmo fundá-la, podemos receber esses imigrantes em nossas casas ou empresas, ou, como qualquer outra situação, podemos olhar para o outro lado e ignorar. Infelizmente a escolha de atitude é individual.
 
A BE acredita que vivendo as diferenças podemos co-criar um mundo melhor! Lembrem-se co-criar…
 
Para saber um pouco mais sobre a situação dos refugiados, acesse:
youtube
fotoselpais
acnur
ministerio da justiça

 


 

Redigido por: Cecília Nunes e Thamy Soavinsky.



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